Pluto (2 Volumes, 15 Capítulos) | Assassino de robôs! (Impressões)

Publicado no Japão entre 2003 à 2009, Pluto está atualmente sendo publicado aqui no Brasil pela Editora Panini. Desde dezembro do ano passado. No momento em que escrevo esta postagem apenas o primeiro e segundo volume foram lançados. Porém o terceiro deve estar chegando às bancas do país em algumas semanas (consta no check-list de abril). No Japão a série foi concluída em oito volumes.

Pluto é uma adaptação de um clássico arco, chamado “O Maior Robô da Terra”, do mangá de Astro Boy. Este por sua vez é uma das maiores obras de Osamu Tezuka, publicado no Japão de 1952 até 1968 (ao todo são 23 volumes da obra original).

Para essa releitura, há a belíssima arte de Naoki Urasawa encabeçando o projeto. Recentemente falei a seu respeito por aqui, quando escrevi as impressões acerca do mangá 20th Century Boys. Pluto conta ainda com a colaboração de Takashi Nagasaki, coautor que sempre trabalha com Urasawa em suas obras, e supervisão de Macoto Tezka, filho de Osamu Tezuka.

Antes de continuar, acho válido dizer que não é preciso conhecer o mangá original ou o universo de Astro Boy para apreciar Pluto. O mangá funciona como um evento isolado da obra original. É exatamente uma adaptação para uma nova geração de leitores, talvez alheios ao conto clássico. Pode ler sem se preocupar com esse detalhe.

Um a um, os maiores robôs do mundo estão sendo assassinados!

Pluto é, em sua essencial, um mangá de suspense policial. O protagonista da série não é Atom, o Astro Boy. A história é colocada em perspectiva pelo personagem chamado Gesicht, um policial da Europol. Este que aparece na capa do primeiro volume.

Tudo começa quando um dos robôs mais famosos e queridos do mundo todo, Mont Blanc é encontrado morto. E note como eu estou tratando os robôs aqui como seres vivos. Isso não é algo que o mangá faz de forma tão direta, porém deixa nas entrelinhas. Mont Blanc é destruído. Ele deixa de existir. Não há como reconstruí-los ou restaurá-lo. Pra mim, ele morreu.

Estamos em um universo onde robôs possuem aspectos humanos, ainda que não sejam completamente humanos. Eles temem por sua vida, mas também possuem uma fagulha diferente em relação a sua existência ao mundo. Isso fica muito claro no segundo volume, quando o leitor passa a conhecer melhor um robô que tem família. Filhos e mais filhos, todos adotados, é claro. Só os descrevê-los como máquinas pensantes está longe de me parecer justo.

Em paralelo a morte de Mont Blanc, outro assassinato é cometido. Um importante humano, relacionado ao ativismo dos direitos do robôs também é assassinato. Ambos os crimes compartilha algo em comum: chifres são colocados na cabeças de suas vítimas. Gesicht é chamado para investigar esse estranho caso e descobrir como eles se relacionam.

Logo Gesicht se vê em maio a uma caçada a um assassino misterioso. Acho que poderia dizer um serial killer de robôs. Onde o alvo estão os maiores robôs do mundo. Há sete deles. Atom e Gesicht estão nessa lista. Quem será o próximo? Quem é o responsável? Como ele pode vencer os maios poderosos robôs do mundo?

Esta é a incrível e fantástica premissa de Pluto.

O que estou achando?

A primeira coisa que me chamou atenção ao mangá, logo no primeiro volume, foi como é fácil se conectar com seu universo, atmosfera e personagens. Dizer que os maiores robôs do mundo estão sendo caçados não é o suficiente para torná-los importante ao leitor. Porém o roteiro encontra soluções elegantes e inteligentes para fazer tal vínculo.

Talvez não com o Mont Blanc, a primeira vítima. Porém tão logo o leitor tem acesso aos três capítulos com o robô North No. 2, ainda no primeiro volume, fica claro o pesar pela morte destes robôs. Não apenas isso, Gesicht também é um personagem perturbado. Com um passado na qual o mangá vai esclarecendo e dando pequenas pistas.

Há dois momentos que me balançaram no primeiro volume. Algo que admito que não estava esperando e me pegou de surpresa. Um diz respeito a uma pequena ocorrência em que Gesicht foi chamado para atender. Envolvendo a morte de um policial robô em um acidente de trânsito. Existe toda uma cena magnifica construida em torno da esposa robô desse policial, onde Gesicht precisa dar a notícia da morte do marido. A forma como ela reage, a conversa entre os personagens.

Até o momento em que o mangá pontua a questão de que robôs podem dividir suas memórias. E de como isso é uma relação de confiança mútua para eles. Isso alias serve como uma ponte para o próximo volume. Onde tal do compartilhamento de memórias de si mesmo para outra pessoa retorna para gerar outras questões e conflitos.

  • Robôs tem regras

Apesar de muito humanizados pela obra, robôs ainda estão limitados as regras de seus criadores. Não é possível que robôs matem serem humanos. Ainda que exista uma exceção. Um robô fez isso no passado. E como ninguém até hoje entende como ele fez isso, resolveram não o destruí-lo. E então o mangá nos apresenta Brau 1589.

Eu fiquei arrepiado com esse personagem. A frieza, os diálogos. Tudo nesse robô é incrível. Me lembrou algo como Hannibal Lecter, personagem imortalizado nos cinemas pelo ator Anthony Hopkins em O Silêncio dos Inocentes (1991), mas que é um personagem criado pelo escritor Thomas Harris no livro Dragão Vermelho (1981).

Gesicht passa a consultar Brau afim de entender quem seria o responsável pelo crime contra Mont Blanc. E é Brau quem acerta o palpite que ele é apenas o primeiro de uma lista de seis. Particularmente adoro quando um antagonista fica um passo à frente do protagonista.  Brau consegue ver algo que Gesicht ainda não consegue.

  • Atom

O mangá não trata Atom como Astro Boy. Ao menos esse nome não é literalmente mencionado. Mas há sim a participação do personagem. Em particular em alguns momentos do segundo volume. Logo fica claro que que Atom é um pouco mais especial em relação aos outros robôs. Porém não é proposta da obra aprofundar isso. Apenas brinca um pouco com esse fato. Atom tem emoções que outros robôs não podem ou não conseguem ter.

Gosto como a obra aqui o retrata como um herói, mas não um super heróis. Nada daquele menino sem camisa, shortinho e cabelo espetado que sai voando para combater o crime no Japão. Seu retrato na adaptação de Urasawa é mais crível com o universo que a releitura se propõem. Gostei muito disso.

Atom vai ajudar na investigação, mas não tira Gesicht do foco principal. Não o coloca à escanteio e se torna o novo protagonista. O que achei ótimo.

Entretanto não vou entrar em mais detalhes acerca do personagem. Descobrir mais aspectos destes personagens faz parte de toda a graça e prazer na leitura de Pluto.

Finalizando (por enquanto)

Pode ter certeza que esta não será a última vez que estarei falando sobre Pluto aqui no site. Para esta primeira rodada quis mais indicar e apresentar um pouco elementos iniciais da obra. Afim de instigar mais leitores a conhece-la.

Não só o ponto de suspense criminal me despertou a atenção, mas na forma como a obra retrata esse mundo de robôs vivendo entre nós. Como ele são humanizados, mas não completamente. Como cada um de suas histórias pode apertar o coração quando suas vidas são colocadas em risco. Como cada um tem um pesado fardo a carregar por um guerra em que foram mandados para o front de batalha contra outros robôs.

É um mangá que fala de redenção, da evolução destes seres, de um retrato de uma ficção que parece plausível de existir em um futuro incerto. É cheio de mini contos, especialmente na forma como trabalha cada uma das histórias dos maiores robôs e seus feitos para o mundo na qual servem. E “servidão” é outra palavra interessante aqui, pois também se discutem o quão livres alguns destes robôs são. Enfim, é uma obra que com 2 volumes já a considero fantástica.

A arte do Naoki Urasawa colabora muito com o roteiro e seus argumentos. As expressões do personagem pelo traço do Urasawa é assustadoramente real. É possível sentir o que estes personagens estão sentido. Há um momento do segundo volume, onde um grupo de personagens estão apenas ouvindo uma batalha. Gritos e desesperos são colocados pesadamente nas páginas do volume. É possível sentir a tensão. É pesado. É genial!

  • Versão impressa

Elogios finais também a parte gráfica dos volumes lançados aqui no Brasil pela Panini. Impressão de altíssima qualidade, tal como seu papel. Páginas coloridas no começo da edição. Abas nas capas e contra capas. E textos extras ao final das edições contando mais detalhes sobre esse projeto. Pode parecer caro um mangá custar 19 reais, mas nessa caso, acho que vale cada centavo. Ser apenas oito volumes e periodicidade bimestral equilibram esse fator do custo sobre o benefício.

— Observação a nota dada abaixo tem como base apenas quantificar as excelentes impressões deixada pelos dois primeiros volumes do mangá. Ela não representa (neste momento) a nota da obra como um todo.

Belíssimo traço do Naoki Urasawa
Excelente argumento para trama
Inteligente reflexão sobre vida artificial
Não é preciso conhecer o universo de Astro Boy
Personagens densos e carismáticos
História conduzida com tensão e mistério

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