Assassination Classroom | Os tentáculos da autoestima!

Esta não é a primeira vez que irei mencionar Assassination Classroom aqui no blog, já aconteceram algumas menções rápidas e um textinho um pouco maior quando descobri ele pela primeira vez no início de 2014. Só que o momento não poderia ser mais propício para retornar o assunto, afinal desde então a Panini resolveu lançar o mangá oficialmente no Brasil e no começo do mês passado uma versão em animê da história estreou lá no Japão, fazendo crescer ainda mais a popularidade do título.

Talvez seja um pouco cedo para dizer o quanto a popularidade de Assassination Classroom vem aumentando no Brasil, já que infelizmente o animê não conseguiu ser licenciado oficialmente pela Crunchyroll, o único serviço de streaming dedicado somente a animê que há no Brasil (apesar da Netflix está crescendo em seu catálogo). Alias, o motivo pela qual a Crunchyroll não conseguiu trazer o animê para cá foi porque a Funimation (outra licenciadora de animês) pediu o direito sobre a série nos EUA, e aparentemente o contrato deles envolve o continente americano como um todo (Norte, Central e Latina) independente da Funimation não trabalhar aqui na América Latina, ou seja, o licenciamento americano acabou amarrando a Crunchyroll de licenciar nos países na qual a Funimation não atua. Em todo caso, mesmo não vindo oficialmente, o título pode facilmente ser encontrado pela internet por conta dos fansubs.

Assassination Classroom Volume 01-04

Bem, mudando um pouco o foco, Assassination Classroom, também conhecido lá no Japão com o título Ansatsu Kyōshitsu é um mangá relativamente recente. O título surgiu em julho de 2012, escrito e desenhado pelo mangaká Yūsei Matsui, que já teve um outro mangá com um relativo sucesso na Weekly Shonen Jump, entra 2005 até 2009 conhecido pelo nome Supernatural Detective (Majin Tantei Nōgami Neuro) que durou 23 volumes e chegou a ter um animê no Japão de 25 episódios entre 2007 a 2008. Infelizmente não conheço esse outro mangá do Matsui, mas numa rápida viagem pelo Google, não me despertou a minha curiosidade, mas em todo caso fica para um futuro quando não houver uma pilha enorme de mangás para colocar em dia na minha mesa.

Sendo assim evitarei comparar o trabalho do autor entre suas obras anteriores e a sua mais recente. Não que isso cause qualquer tipo de impacto também ou diga que Assassination Classroom não é melhor ou pior dentre aquilo na qual o mangaká já produziu. De qualquer forma, o caso é que Assassination Classroom é diferente o suficiente para fazer jus a fama e popularidade na qual vem enfrentando nestes últimos anos.

Isso porque não é fácil escrever e criar um mangá que tenha como palco de cena a vida escolar baseado na cultura japonesa. Mangás assim facilmente possuem tantas semelhanças entre si e clichês que para o leitor normal, que não seja aficionado no gênero, tudo parece sempre a mesma coisa. O tom de humor das piadas, aquelas velhos draminhas de paixonites juvenis, o protagonistas masculino que se vê cercado de mulheres, os professores sem noção e todo aquele clima jovem e das festividades da cultura japonesa. Felizmente Assassination Classroom é o ponto fora da curva e, ao menos em seu início, ele não tem qualquer um desdes clichês batidos e óbvios, trabalhando tanto a ficção absurda de um ser que pode destruir o mundo, mas que é amável além do normal por alguns alunos, quanto a geração da baixo autoestima que assola os jovens (e aqui não apenas os japoneses). É diferente, ainda que dentro de um clima que você reconhece, porém que provoca no tom certo alguns problemas da juventude atual, ainda que baseada na cultura japonesa.

Claro que esta são minhas impressões apenas tendo lido até metade do terceiro volume do mangá lançado aqui no Brasil pela Panini, além de ter visto os três primeiros episódios do animê para ver a vibe da animação. O quarto volume deve estar chegando as bancas em alguns dias por sinal. Ano passado quando escrevi ao blog pela primeira vez ainda não tinha pescado algumas bases e parâmetros da série, pois tinha lido apenas o que seria ao equivalente ao primeiro volume do mangá. Mas agora, passado pelos três primeiros volumes, crio expectativas para que a melhora continue nessa escalada na qual venho notando.

wsjump

Sobre a história, Assassination Classroom trabalha num universo onde a lua foi parcialmente destruída por esse ser/monstro que mais parece um smile gigante com um corpo cheio de tentáculos. Só que esse monstro é tão poderoso e veloz que não há ninguém na Terra capaz de capturá-lo ou matá-lo, e o mesmo fez a promessa de que dentro de um ano causaria a mesma destruição, porém desta vez seu alvo seria a Terra.

Mas como é chato esperar um ano, já que ninguém consegue detê-lo, ele resolve virar professor de uma classe de uma das mais refinadas escolas do Japão, sobre a promessa de que os alunos dessa classe podem diariamente tentar assassiná-lo, ao mesmo tempo em que ele não pode nem sequer machucar os alunos.

korosensei

A grande sacada do autor não tem a ver essencialmente com o monstro, que é batizado de Koro-sensei nos primeiros capítulos do mangá, mas sim com a situação na qual a classe e os alunos escolhidos pelo Koro-sensei. Trata-se da classe dos derrotados, a pior turma da melhor escola, a classe que reúne os alunos com as piores notas, considerados por toda a escola como a classe desprezada, dos alunos que não são sequer dignos de respeito, a classe dos fracassados. No começo não é tão perceptível como os alunos sofrem com esse preconceito vivido pelos mesmos, até porque no começo o leitor está mais embasbacado com o potencial e poderes de Koro-sensei, mas logo após esse glamour inicial, o autor começa a trabalhar melhor na condição na qual os alunos passam, em especial num arco logo no começo do segundo volume onde todos são convocados para uma reunião geral da escola e todos, alunos e funcionários, deixam bem claro o quanto eles desprezam a turma de Koro-sensei.

Acho interessante porque é uma forma de história mostrar e trabalhar com essa tendência dos jovens que sentem essa baixo autoestima, seja por preconceito de pessoas ao seu redor, a frustração de não conseguir acompanhar a educação paga pelos pais, indo até mesmo a outros problemas. Claro que o mangá não trabalha isso de forma pesada e séria, como um drama, até porque estamos falando de um mangá da Weekly Shonen Jump, feita para leitores de várias idades. O humor prevalece muito mais, mas tal como One Piece (e tantos outros mangás), a história e o universo do mangá sabe trabalhar nas entrelinhas destes assuntos mais polêmicos.

E fica melhor quando o leitor percebe que Koro-sensei é um personagem peculiar, porque ele não assume necessariamente o papel de vilão ou do antagonista. Ao menos não é assim que os alunos o veem, e por consequência isso passa ao leitor de forma bem clara ao longo dos primeiros capítulos. O personagem é estabanado, atrapalhado, estranho, porém é habilidoso e perspicaz no sentido de entender as pessoas e seus sentimentos.

Assassination Classroom também tem essa fórmula que muitos mangás hoje em dia possuem, de esconder um pouco segredos que precisam ser explicados, apesar de que nesse começo, nada disso se faz necessário ser detalhadamente contextualizado. O primeiro capítulo já dá a dica da origem de Koro-sensei e isso já é o suficiente para o leitor. As outras pinceladas surgem posteriormente, mas em nenhum momento se faz necessárias serem o foco da história. Koro-sensei é um ser que não deveria existir, mas existe e pronto. Ele é estranho, mas é muito mais “humano” do que muitos dos outros “vilões” que surgem ao longo das histórias. O mistério é só para dar aquele gostinho a mais.

Claro que o mangá tem lá seus defeitos. O humor não é tão incrível assim. Há excelentes piadas, e até mesmo uma reciclagem das mesmas sendo usadas de maneira inteligente, mas não são nada absurdamente hilárias. Talvez, é claro, seja porque estou com 30 anos e nem toda piada é escrita pensando na minha faixa etária. Ainda assim a simpatia pelo personagem do Koro-sensei é inegável. É aquele professor que todo mundo que já frequentou a escola uma vez na vida gostaria de ter, e não pelos superpoderes absurdos, mas pela forma como ele compreende as limitações individuais de cada aluno e suas verdadeiras frustrações.

Também acho estranho o protagonista principal do grupo dos alunos, o Nagisa, que é um personagem masculino, mas com um gritante traço de personagem feminino. A confusão é tanta que houve fansub legendando como se ele fosse uma garota o primeiro episódio do animê. Não que ele haja, fale ou se movimente como uma garota, mas é porque o traço é realmente estranho. Não sei o porque do autor o ter feito assim, mas enfim, depois de um tempo você acaba se acostumando (e até acho que a postura do Nagisa melhora após o ritmo inicial dos primeiros capítulos).

Sobre o animê, ainda que tenha visto apenas os primeiros três episódios, tenho a sensação de que ele não é tão incrível quanto o mangá se comprova logo de início. O ritmo do animê é bom e a animação é de qualidade, mas não achei a voz do dublador do Koro-sensei tão marcante assim, queria que ele tivesse uma voz mais cartunesca mesmo. Apesar de ter curtido a forma como o animê adaptou as armas usada no mangá, deixando elas claramente como armas que só podem ferir Koro-sensei (ainda que no mangá seja assim também).  Enfim, parece que o animê ficou melhor do que uma OVA, produzida em 2013. Uma pena apenas que ele siga fielmente o mangá e não tenha dado muita entrada para novas piadas ou cenas extras e como a leitura do mangá é bem recente pra mim, o animê mais me parece um repeteco daquilo que acabei de ler.

Pra encerrar esse textinho, acho que vale dizer que Assassination Classroom é um ótimo mangá no sentido de fuga da mesmice que podem ser os mangás da Weekly Shonen Jump e prova de que ainda dá certo a criação de personagens realmente estranhos e bizarros. Dá para entender o porque o dessa nova safra de mangás, como Boku no Hero Academia (que é até mais recente ainda), ele é um dos queridinhos de sucesso da Jump.

Dizem por aí que é um mangá com vida curta, que deve acabar logo, mas atualmente ele já conta com 12/13 volumes, o que já é um número legal, mas eu não acho que essencialmente ele precisa acabar no prazo de um ano que a história dá ou na formatura dos alunos da classe. Particularmente acho que a história pode revirar e mudar até lá e que não necessariamente precisa ficar nesse mesmo ritmo que seu início. Koro-sensei é um personagem interessante que funciona até mesmo se o autor resolver mudar todo o elenco de alunos, então acho que enquanto o mangá estiver se dando bem na Jump, não há que se preocupar com o final do mesmo. O que pode acontecer é ele ter uma segunda fase ou outro título, como aconteceu com Rosario + Vampire, mas acabar, se ainda estiver sendo um sucesso, não acho que termine, até mesmo pela necessidade da Shonen Jump atualmente estar precisando de títulos que durem a longo prazo, afinal Naruto já foi, Bleach está em vias de acabar e Hunter x Hunter sumiu novamente no limbo dos hiatos. Isso pra não citar a enxurrada de títulos que não andam durando muito na Jump atualmente. Mas no fim Assassination Classroom, sendo um mangá que podem se encerrar previamente ou não, já vale essa viagem inicialmente na qual a história de propõem!

Fica a recomendação!

caras koro-sensei

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5 Comentários

  1. Faça um CDM de Bleach, há muito tempo que não faz sobre ele, e logo agora que ele está começando a ficar um pouco épico e interessante.

  2. Passei por ele umas três vezes na banca quando fui comprar o “Operação Big Hero” em Mangá… Mas, por não saber do que se trata, não comprei. Mas, me convenceu… Vou voltar lá e comprar…

    Valeu pela dica!

  3. Curti o anime e estou acompanhando essa temporada e suas palavras fazem jus a situação que vejo se passar no anime, para quem na acompanha dê uma chance que não vai se arrepender…

  4. To lendo o mangá até o capítulo mais recente. Sem entrar em spoiler, existe um motivo pra o Nagisa parecer uma menina, não é só o estilo do personagem.

    O que eu gosto desse mangá é que o autor criou 27 protagonistas, cada um com nome, um rosto facilmente reconhecível, uma personalidade, um passado e um talento único. É impressionante, e faz a história ser muito mais interessante.

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