Análise | River City Girls

Disponível para PlayStation 4, Xbox One, Nintendo Switch e PC

River City Girls, jogo desenvolvido pela WayForward e publicado pela Arc System Works que teve sua data de lançamento no último dia 05 de setembro, abrangendo os gêneros ação e aventura no melhor estilo beat ’em-up, possuindo por sua vez single player e multiplayer para 2 jogadores locais. O jogo tem versões para Xbox One, Nintendo Switch, PlayStation 4 e PC. A versão utilizada para este review foi a de Xbox One.

O jogo é mais uma das joias da WayForward, estúdio norte americano que sempre aparece em análises aqui do site de tempos em tempos. Eu mesmo fui responsável por algumas destas análises. Recentemente escrevi a análise de Mighty Switch Force! Collection, assim como também fiz o do divertido The Mummy Demastered, lançado ano passado. Porém a WayForward provavelmente é muito mais conhecida pela série de jogos de Shantae. Por aqui no site encontramos as análise de Shantae and the Pirate’s Curse e Shantae Half-Genie Hero, e já aguardamos animados por Shantae and the Seven Sirensque inclusive foi lançado hoje (19) com exclusividade para Apple Arcade e em breve será lançado em mais plataformas. Ou seja, é um estúdio que se você não conhece, talvez devesse.

De volta a River City Girls, o título tem como cenário a cidade sugestivamente chamada River City, um lugar onde a encrenca está sempre pronta para acontecer. E talvez você associe esse título, ou a própria cidade a River City: Tokyo Rumble, lançado para o Nintendo 3DS em 2016. Mas Tokyo Rumble não é uma produção da WayForward, e é nesse ponto que entra a Ark System Works, que é a atual dona dessa IP e que no Japão se chama Kunio-Kun. E aí basta uma rápida pesquisada pela internet para descobrir que River City é uma franquia que existe desde 1986, com diversos jogos lançados ao longo das últimas décadas. Curioso, não?

E não, você não precisa ter jogado os títulos anteriores para entender River City Girls. Boa parte dos jogos funcionam sem amarrar aos anteriores, sendo que alguns nem sequer receberam o River City em seus respectivos títulos ocidentais no passado. Apesar de alguns jogos de esportes da série, boa parte de seus títulos seguem a boa e velha premissa dos jogos beat ’em-up, sendo bons e divertidos jogos de briga de rua. Aliás, a Technōs Japan, estúdio que deu origem a franquia e que cuidou dela até 1996, também é a criadora do inesquecível Double Dragon, um clássicos da era de ouro dos videogames e dos jogos de briga de rua. E tem mais, Double Dragon II é uma adaptação ocidental, pois no Japão o jogo faz parte da franquia Kunio-Kun (Nekketsu Kōha Kunio-kun: Bangai Rantō Hen).

Enfim, para pontuar melhor, talvez seja legal explicar que os astros desta série de jogos normalmente são os brigões Kunio e Riki. Entretanto aqui, em River City Girls, ambos são sequestrados por uma organização misteriosa, e desta vez para salvá-los quem vai ter que encarar a peleja serão as suas namoradas, Kyoko e Misako. O que é uma boa ideia para reapresentar a série a uma nova geração de jogadores.

As lutadoras de River City

As coisas não estão fáceis para Kyoko e Misako, duas simples alunas do ensino médio. Após as aulas elas têm que encarar mais algumas horas de detenção e nessa jornada descobrem sobre o sequestro de seus namorados Riki e Kunio. A detenção acaba no exato momento da descoberta do sequestro, pois nem mesmo a junção de todos os valentões da escola será capaz de deter essas garotas em sua missão. E Kyoko e Misako certamente possuem as habilidades necessárias para o trabalho.

Conforme avançamos pelos cenários, derrotamos centenas de inimigos e cumprimos missões, vamos ganhando EXP e assim subimos de level à medida que o jogo avança. Quando ocorre o famoso level up (aumento de nível) além de termos o aumento dos atributos como força e vida, recebemos novos movimentos que são distribuídos regularmente e ajudam a adicionar variedade ao combate. Em determinada área do jogo existe um Dojo que também pode ser visitado diversas vezes para aprendermos novas habilidades ao custo de valores em dinheiro.

Somente podemos controlar uma das garotas, então temos que escolher entre Kyoko e Misako, e assim partir para a pancadaria e resgate. Caso um segundo jogador se junte a aventura (somente multiplayer local), ele assumirá o controle da garota restante. Ambas tem níveis e habilidades distintas, então fica a sua escolha qual delas será sua heroína principal.

A movimentada River City

Assim como as cidades do mundo real, River City também é movida por dinheiro, mas nesta cidade você pode sair enfrentando todo mundo pelas ruas e ganhar dinheiro. Cada inimigo ao ser derrotado libera moedas ou notas de dinheiro. E temos muitas lojas, e consequentemente vários itens, para gastar esse dinheiro. Só tome cuidado, caso sua vida acabe e apareça a tela de Game Over, perde-se uma boa fatia dessa grana. Sendo assim, em momentos de desespero, comprar um item e recuperar a vida pode ser melhor do que deixar acontecer o inevitável e perder a grana de todo jeito.

As lojas disponibilizam somente 4 itens diferentes cada uma, mas podemos comprar quantos quisermos de cada um deles. Temos itens de cura que renovam uma porcentagem da energia e itens de equipamento. Somente podemos ver o que cada um é, no caso a descrição dos efeitos, ao comprarmos e usarmos um deles.  Mas tome cuidado, vários itens com preços diferentes resultam no mesmo efeito. Como, por exemplo, recuperar 20% da vida, mas a variação de preço entre esse item pode ser grande.

Adianto que deve-se cuidar com os acessórios, que ao serem vestidos conferem atributos únicos e específicos, como bônus de dano contra inimigos masculinos/femininos, contra inimigos no chão e outros. Tem até um que pode gerar itens duplos na hora da compra baseado na sorte. Entretanto apenas dois acessórios possam ser equipados ao mesmo tempo e a qualquer momento, aumentando a fatia RPG da jornada e dando sempre uma atualização na forma de jogar.

Para gerenciar as coisas, o acesso de dá pelo celular presente na parte superior da tela, que apresenta o menu onde teremos os golpes aprendidos, a experiência necessária para subir de nível, a localização no mapa (com marcações para onde devemos ir para cumprir determina missão) e marcando as áreas já exploradas. Ainda há uma tela de seleção de acessórios, uma lista dos inimigos recrutados e as opções de áudio e vídeo. Também achamos o botão de save, caso queira sair repentinamente do game. O título conta com salvamento automático a cada morte.

No quesito inimigos, estes são dos mais variados, havendo estudantes, policiais, dançarinas, líderes de torcida, membros de gangues, lutadores mexicanos e muito mais. Mas, veja só, eles podem lhe ajudar na sua jornada ao serem recrutados. Alguns para salvarem suas vidas irão implorar por misericórdia, e quando isso acontecer cabe a você escolher se vai ter piedade ou continuar lutando contra até que caiam. Escolhendo o perdão, isso faz com que eles lhe ajudem nas batalhas ao pressionar um botão. Entretanto existe uma quantidade razoável de opções, a quantidade de tempo de espera necessária entre os usos dessa ajuda e a funcionalidade limitada da mesmo, limitando-se a um golpe em inimigos próximos, que fazem com que essa mecânica pareça mais uma novidade forçada do jogo do que uma necessidade real para as lutas.

Segundos os passos dos jogos anteriores da série, River City Girls apresenta várias áreas diferentes que podem ser exploradas. Temos a totalidade de seis áreas, todas conectadas entre si e acessadas por meio de viagens de ônibus (caso queria voltar a um local muito longe, o caminho a pé também está disponível já que todo o cenário é interligado). Os cenários variam de centros urbanos elegantes, shoppings, escola, praia, entre outros locais.

Kyoko e Misako viajam de um lado para o outro por essas zonas, conversando com aliados, completando missões secundárias e coletando informações sobre o sequestros de seus namorados. Embora cada parte nova seja delineada pelo confronto final contra os chefes, o mapa sempre permanece aberto durante todo o jogo. River City Girls é, essencialmente, uma aventura de mundo aberto reduzida.

A pancadaria de River City

River City Girls funciona na mesma maneira que você espera e já está acostumado com os outros beat-em-up dos quais veio a inspiração retrô. A movimentação da personagem escolhida é lento no começo e sentimos uma dificuldade de fazer as ações, mas esta movimentação fica mais fluida e rápida à medida que se acumulam as melhorias nas estatísticas da personagem.

A jogabilidade é bem simples e envolvente, permitindo que você faça vários movimentos impressionantes e com quase nenhuma complexidade no apertar dos botões. Isso é bem vindo uma vez que vai agradar tanto os experientes quanto não acostumados aos gênero briga de rua.

Mas nem tudo são acertos, pois há algumas seções impostas onde a jogabilidade passa a ser de plataforma, como na parte onde deve-se roubar uma chave de um guarda dorminhoco, saltando sobre os móveis da casa a fim de evitar pisar em centenas de brinquedos barulhentos espalhados pelo chão. Evitando assim que ele seja acordado pelo barulho. Perder o controle dos saltos ou saltar fora da área demarcada no chão acaba sendo chato e repetitivo. Leva-se um tempo até acertar esse ritmo.

Assim como todos os outros jogos de briga de rua, River City Girls fica melhor se jogado de forma cooperativo com um amigo. Além da óbvia vantagem adicional de termos dois personagens na tela e causarmos o dobro de danos, há também aquela gritaria que fazemos jogando multiplayer de sofá. Afinal é a forma clássica como os beat-em-ups mais antigos foram projetados para serem aproveitados na era de ouro dos fliperamas. E essa fórmula funciona muito bem até os dias atuais.

Não posso deixar de mencionar que ainda puxando da clássica fórmula da qual veio a inspiração, pode-se usar objetos largados pelo cenário, a fim de causar mais danos. Temos tacos de beisebol, bolas de tênis, correntes, Ioiôs, caixas e, é claro, não posso me esquecer, os próprios inimigos! Estes ao caírem no chão podem ser agarrados e usados para batermos em outros inimigos, fazendo um strike com os choques.Uma técnica que sempre vem a ser muito útil.

Os chefes não são monstros fora dos padrões ou gigantescos, são pessoas “normais” com poderes especiais. É legal apontar que não recebemos dica alguma de como derrotarmos. Fica ao jogador testar alternativas até entendermos a forma correta de como proceder contra cada um deles. Gostei dessa iniciativa de não entregar o peixe de mão beijada para o jogador.

Já uma decisão duvidosa – no meu ponto de vista – quanto a jogabilidade é o uso do mesmo botão para realizar 2 funções distintas que acabam se misturando no calor das batalhas. Este botão é responsável pelos ataques rápidos (os que você mais vai usar) e também é utilizado para interagir com objetos do cenário, o que inclui sair e entrar em lojas e nas próximas áreas do mapa. Muitas vezes me vi saindo por engano de uma sala no meio de uma batalha acalorada, apagando todo o progresso que havia feito ali, já que com isso os inimigos simplesmente reapareciam ao voltar ao cenário.

A arte gráfica e a trilha sonora que contagia

River City Girls é fortemente inspirado nos animês e mangás dos anos 90, sendo essa é uma das marcas mais interessantes deste jogo. Espere por vários momentos com cenas de animes de alta qualidade. Porém na hora da ação os gráficos da jogabilidade permanecem nostálgicos pixels de 16 bits. O que é realmente algo que imaginamos em nossas cabeça ao pensar nos arcades dos anos 90, enquanto continuávamos a inserir moedas após moedas nestas máquinas comedoras de mesada.

Nas sequências em formato de animê, há a narração da história e também a chegada dos chefes no final de cada fase. Porém não é só isso, ainda temos sequências em formato mangá, onde acompanhamos nos quadros a narrativa de eventos passados das personagens. Isso sem esquecer de mencionar os clássicos hiraganas utilizados nas conversas entre as personagens, NPCs e chefes.

A trilha sonora, desde a animação de abertura (com a música We´re the River City Girls), é épica. Seguindo o estilo Synth-pop também chamado de electropop ou tecnopop. Para quem nunca havia ouvido falar desse estilo, ele é um subgênero da música new wave e se destaca por utilizar de teclado sintetizador como o instrumento musical dominante, ao invés da guitarra. Em River City Girls contamos com músicas de NateWantsToBattle, Chipzel, Christina Vee e Megan McDuffee! Gostei realmente desta trilha sonora e são músicas que ficam tocando na sua cabeça após ouvir por algum tempo. Realmente é um ótimo elemento, que contagia e dá energia ao jogar a aventura.

Considerações finais

 River City Girls é um beat ’em-up bom de se jogar, a qual posso fortemente recomendar. Ele é desafiador na medida certa, além de ser altamente animado. O seu estilo 16 bits juntamente com sua caracterização visual e seus trejeitos nerds o tornam algo único, que despertar a atenção mesmo agora em 2019. Junte com vários outros detalhes menores, como a trilha sonora, as menções easter eggs de cultura nerd e também as próprias animações das personagens, que aparecem em cima da sua barra de vida (fazendo caretas ou chamando a sua atenção para as situações vivenciadas pelo jogador). A apresentação do título como um todo é ótima.

Para não ficar apenas nos elogios, posso tecer algumas críticas. Por exemplo, embora as batalhas sejam divertidas e desafiadoras, elas também se repetem em abundância. Sair de uma área e logo voltar significa que ela estará lotada com os mesmos inimigos, juntamente com o fato mencionado acima do botão de ataque ser o que interagem com o ambiente (o que vai acabar gerando uma ida e volta nos cenários sem o consentimento do jogador), aliado ao respawn de inimigos. Isso é algo que poderia ter sido repensado.

Quanto ao fator replay, temos a opção New Game+ após sua conclusão, o que nos apresenta o mesmo game com uma dificuldade mais elevada, inúmeras novas missões com colecionáveis ​​e outros personagens para interação. Fora que em multiplayer você pode jogar a aventura com diferentes amigos.

Ao fim, posso concluir que River City Girls é um maravilhoso jogo dentro de sua proposta. Esbanja carisma, possui uma bela pixel art, tem todo um cuidado com suas cenas em animê, além de uma bem apurada trilha sonora. É um título para os jogadores saudosistas com o que já existiu de melhor nesse estilo tão clássico. É um título divertido e que vale a pena se conhecer, independente deste ser seu primeiro jogo baseado no universo de Kunio-Kun.

Galeria

Dando uma nota

Um jogo que empolga, com uma contagiante trilha sonora - 9
Jogabilidade beat-em-up das antigas, mas sem soar datado ou engesado - 9
Ótimas batalhas de chefes, fazendo o jogador pensar e observar como derrotá-los - 8.5
Tem estilo visual ao se inspirar em animês e mangás da década de 90 - 9
Pixel art em 16 bits traz a nostalgia que favorece o gênero - 9
Multiplayer somente local, e no máximo 2 jogadores - 7.5
Repetição de inimigos infinitos ao sair e entrar em áreas cansa um pouco - 7

8.4

Ótimo

River City Girls presenteia os jogadores com uma jogabilidade fantástica e um design de jogo simplesmente repleto de carisma. Há um imenso senso de humor que poucos jogos atualmente são capazes de alcançar. Tem um charme único, sendo um ótimo beat 'em-up, oferecendo boas ideias e uma jogabilidade viciante.

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