Análise | Cricket Through the Ages

Disponível para Nintendo Switch & Apple Arcade

Cricket Through the Ages é uma esportiva odisseia cômica de rebater algo através de surreais cenários utilizando apenas um único botão, enquanto se diverte com uma física maluca, esperando resultados imprevisíveis que certamente serão recompensadoras o suficiente para que você queira experimentar mais uma partida. É o tipo de jogo que é irracionalmente divertido, porque amamos algo legitimamente… bobo!

O jogo surgiu originalmente lá em setembro de 2019, quando foi lançado com exclusividade na Apple Arcade, contudo, recentemente, agora em 1º de março deste ano, a obra atravessou novas plataformas, chegando assim no Nintendo Switch e também no PC (Steam). Já alerto que em ambas as plataformas o jogo está num preço justíssimo, R$26.

Cricket Through the Ages foi desenvolvido pela Free Lives, um estúdio independente localizado na República da África do Sul, e que já tem em seu repertório diversas pérolas aclamadas, como Broforce (2015), Genital Jousting (2018), Gorn (2019) e Terra Nil (2023). É um estúdio com uma tremenda criatividade e que sabe aplicar muito bem o bom humor em suas produções. A distribuição global do título está nas boas mãos dos malucos da Devolver Digital.

Antes de continuar, vale mencionar que esta aventura de partidas rápidas de críquete conta com localização em português, para os menus e também aos textos que existem dentro da singela narrativa que o título apresenta. Penso que a localização é ainda mais importante por conta das explicações em certos pontos da campanha, afim de entender as regras malucas que o próprio gameplay constrói conforme vai se intensificando.

Bata & rebata

O conceito do jogo é simples, não que isso o desmereça, há dois personagens, um em cada oposto da tela, podendo ser controlado por dois jogadores, cada qual com seu controle, ou então a aventura pode ser apreciada em single player e a CPU do jogo irá assumir um destes personagens. Um personagem vai arremessar alguma coisa, enquanto o outro lado vai tentar rebater. Isso é críquete… ou quase.

Porém há que se pensar que Cricket Through the Ages é um jogo de humor, que aposta na comédia para motivar os jogadores, então o conceito é contar a história (ficcional) do críquete através das eras, remontando desde os primórdios mesmo, quando o Homem das Cavernas usava pedras para derrubar dinossauros, ou quando resolviam conflitos atirando pedras uns nos outros, até inventarem o taco. E depois disso, claro que também houve momentos de conflito em que os tacos foram usados em ambos os lados, e nenhuma bola foi arremessada. Parecem dados históricos muito bem apurados a meu ver.

O que torna essa brincadeira história ainda mais engraçada é que o jogo apresenta aquela física de personagem bonecão de posto, com uma movimentação toda estranha, idealizada por uma jogabilidade de um ÚNICO botão do controle, sem sequer cogitar o uso do analógico. Isso sim é bem criativo e diferente.

Basicamente ou o jogador aperta o botão para o personagem arremessar ou rebater, ou então o mantém pressionado ele começar a girar o braço com o que estiver em mãos e, ao soltar, o mesmo arremessa se o objeto para a direção em que o giro do braço estiver em posição. Se for um taco, apertar ou segurar o botão, o fará ficar girando o taco no eixo do braço. Realizar qualquer uma destas ações faz com que seu personagem vá, automaticamente, avançando em direção ao meio da tela, até se chocar com o personagem adversário.

Então sim, podem existir situações em que dois personagens com tacos devem ir ao encontro um do outro, e ver quem vai nocautear o outro primeiro. E as combinações surreais e estranhas vão surgindo, como um lado ser um dinossauro que precisa ir até o humano com uma pedra do outro lado, sendo que o humano pode errar a pedra, e assim o dinossauro vai se chocar com você e o derrubará.

A história avança e, claro, que a humanidade irá encontrar outros meios de se entreter. Podemos ter um cenário medieval em que haverá dois cavaleiros montado em seus cavalos cada qual com uma lança, tentando derrubar o outro. É o mesmo conceito para o gameplay: aperte ou segure o botão para avançar, e a física improvável vai decidir quem vai derrubar o outro primeiro.

Cricket Through the Ages é um obra de micro partidas, que irão durar alguns segundos, passando por situações absurdas e surreais. Num primeiro momento, contando a história da humanidade, até mesmo indo para a conquista do espaço e exploração da galáxia, onde você descobrirá que até mesmo alienígenas jogam críquete e que bastões de laser são mortalmente problemáticos para o adversário que talvez preze por sua vida.

É uma proposta muito semelhante a jogos como What the Golf?, são jogos que apostam no inesperado e numa jogabilidade brincalhona. Onde o conceito de ambos foram feitos para dispositivos mobile, cujo controles não tem a complexidade dos controles de consoles, e que se adaptam muito bem a qualquer público mais casual. Contudo, são jogos que também divertem quando chegam aos consoles, que precisam também essa leveza que o mundo dos games mobiles podem entregar com muita facilidade.

Uma vez experimentado a campanha principal de Cricket Through the Ages e aprendendo mais sobre o críquete pela história da humanidade, novos modos de jogos serão apresentados aos jogadores, que seguirá reforçando a jogabilidade bem humorada, enquanto também vai inserindo um pouco mais de complexidade a brincadeira.

Dentre as modalidades algumas apresentarão ao jogador modalidades de campeonatos, onde será necessário pontuar até certo valor para vencer uma equipe adversária, que normalmente irá representar um país. Caso o jogador perca a rodada, não é preciso reiniciar o campeonato, apenas o confronto contra a equipe adversário é reiniciada.

Nos campeonatos, Cricket Through the Ages começa a dar regras mais claras ao jogador, permitindo que a jogabilidade se torne relativamente mais estratégica, ainda que se mantenha caótica e imprevisível quando na modalidade em que uma história vai sendo apresentada, e não se fala em pontuação.

Aqui o jogador é apresentado ao conceito de pontos e troca de batedores e arremessadores. Para começar, os wickets são introduzidos, que são duas frágeis “casinhas“, e que se posicionam atrás de cada um dos dois jogadores. Com isso o objetivo passa a ser derrubar a casinha do adversário para quando se estiver arremessando, pois isso faz com que você passe a rebater, que é a melhor forma de pontuar aqui.

Os pontos de Cricket Through the Ages não são exatamente como o críquete normal, assim, sempre que você rebater algo pra fora da tela, você ganha um ponto. Sempre que rebater um pato voando na tela, você também ganha um ponto. Rebater e acertar a cara do adversário? Ponto também. Praticamente quase tudo gera um ponto. E quem está arremessando também passa uns perrengues, pois jogar a bola para fora propositalmente dá ponto ao adversário, então você precisa mirar na casinha do adversário ou tentar nocauteá-lo com a bola.

Só que se você está arremessando, não pode ficar assim pra sempre, ou não vai ganhar muitos pontos. Então mirar na casinha adversária é a melhor forma de trocar as posições e assim começar a rebater. Caso seu adversário derruba sua própria casinha, porque lembre que a física do jogo é louca, isso também troca as posições, mas isso é anulado caso ambos os jogadores derrubem suas casinhas.

Percebe como a jogabilidade agora se levou mais a sério? Isso é bom, pois agrega competitividade. Dois jogadores reais vão se divertir com essa jogabilidade uma vez que assimilem as regras e as situações de cada micro arremesso. Afinal o jogo não vai se manter com uma bola e um taco nestes cenários. Você pode segurar um guarda chuva ou uma bola de futebol americano. As situações surreais seguem nestas modalidades.

Um modo que teve um destaque pra mim em Cricket Through the Ages foi um que simula os Jogos Olímpicos. Nesse o jogador encara diversos desafios olímpicos, em diferentes esportes, mas com a peculiaridade da jogabilidade de um único botão. Vai de natação, acrobacia, esgrima e afins. Até carregar a tocha olímpica se mostra um grande desafio pra um boneco molengão.

Também me surpreendi com um modo de guerra, onde jogadores avançam por um terreno arremessando granadas e empunhando uma baioneta (aquela arma com uma lança na ponta), num modelo de partida que parece muito com um cabo de guerra, e que também se assemelha com a brincadeira de duelo que existe em jogos como Nidhogg 2. O lado que morre, permite que o adversário avance um pouco sobre o terreno inimigo, e a partida só acaba quando alguém chega ao extremo oposto da tela.

Já o último modo que é liberado ao se aventurar por Cricket Through the Ages é o mais divertido, porque ele irá misturar tudo que o título apresentou nos modos anteriores, que envolva o críquete em si, para partidas ainda mais acirradas, onde jogadores precisam realizar 42 pontos, duas vezes seguidas, afim de se tornar o campeão máximo de críquete.

Para isso algumas regras adicionais são criadas, como disputar quem irá rebater em cada rodada, levando em consideração que é preciso duas vitórias para decidir isso, e depois, rebatedor e arremessador são fixos dentro da rodada, que só termina depois de três bolas foras, que são definidos por arremessos errados ou rebatidas certeiras. Aí retorna a disputa pelo taco novamente. É um modo realmente imprevisível, que a vitória muitas vezes vai ser definida pelo jogador que se segurar como rebatedor por mais rodadas.

Considerações finais

Cricket Through the Ages é um daqueles jogos que apostam na criatividade, num tom bem humorado para encantar os jogadores e que funciona muito bem dentro de uma proposta de um jogo de escopo menor, que sabiamente se aceita como uma diversão rápida dentro da flexibilidade que o mundo dos jogos independentes permite que o mesmo seja.

É um jogo de um sábado a tarde com os amigos. Mesmo que hoje em dia não seja possível alugar um jogo assim, porque as locadoras de jogos são algo do passado, é um jogo que custa uma merreca, e certamente vale o investimento para tê-lo sempre a mão, para apresentar aos amigos ou familiares que não estejam habituados com o encantador e eclético mundo dos videogames. Então ser curtinho não é nenhum problema a sua proposta.

O visual com gráficos minimalistas também funciona dentro de sua proposta, tornando o jogo mais leve, gerando um alívio cômico e permitindo que a imaginação preencha as lacunas deixada pelos gráficos. E é mais divertido assim por conta da física boba, com bonecos que se movimentam propositalmente de forma desengonçada. Além disso, as ideias que são construidas dentro da brincadeira com o críquete são ótimas.

Arremessar uma bola de boliche, ser a Rainha da Inglaterra ou confrontar um tiranossauro montado num cavalo, enquanto rebate com uma raquete de tênis em uma bola de praia… bem, isso são só pequenos exemplos dos muitos absurdos que esperam os jogadores em Cricket Through the Ages. É um jogo brincalhão, perfeito para sessão rápidas, para desestressar, ou tirar sarro com os amigos num dia descontraído em frente a uma TV ou monitor, o que torna a brincadeira multiplayer do título muito mais expressiva do que a experiência original limitada em uma plataforma mobile.

Galeria

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Dando nota

Tem uma direção de arte minimalista que combina muito seu tom cômigo - 8
Jogabilidade acessível para qualquer tipo de público, utilizando apenas um botão - 7.5
Diversos modos de jogos que inserem diferentes maneiras de experimentar a jogabilidade - 7.5
Jogabilidade com aquela física desengonçada, que resulta ótimos momentos de genuina imprecisão - 7.5
Possui um ótimo sensor de humor, com boas piadas e boas situações imprevisíveis - 8
Curtinho, pode ser vencido num único dia, e portanto é um jogo indie baratinho - 7
Seu multiplayer para duas pessoas rende muitas risadas - 7.8

7.6

Divertido

Cricket Through the Ages é um divertido jogo de física desengonçada que parte da premissa que o homem sempre arremessou algo para alguém rebater, e aqui os jogadores fazem uma inesperada viagem pelas mais diferentes situações da humanidade, com uma jogabilidade de único botão, encontrando suporte multiplayer, pequenos módulos de campeonato e boas risadas garantidas. Curtinho, barato e totalmente acessível para quem nunca tocou num videogame.

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