Análise | Grindstone

Disponível para Nintendo Switch, Apple Arcade & PC

Grindstone é um viciante jogo de puzzle, perfeito para aqueles jogadores que acham que já viram de tudo que este gênero pode oferecer. Desenvolvido e distribuído globalmente pela Capybara Games, lançado originalmente em setembro de 2019 como um título com exclusividade temporária para Apple Arcade, e que em dezembro do ano passado chegou ao Nintendo Switch, e em maio deste ano fez sua estreia no PC, através da Epic Games Store. Recentemente o título foi disponibilizado digitalmente na eshop brasileira do Switch.

A Capybara, ou apenas Capy, é um estúdio indie canadense responsável por jogos como Superbrothers: Sword & Sworcery EP (2011), Super Time Force (2014) e Below (2018), títulos bem diferentes entre si, cada qual com sua singularidade. São ótimos jogos, pertencente a diferentes gêneros, o que demonstra a versatilidade do estúdio. Grindstone é outra destas joias, único e realmente criativo, apostando desta vez em gráficos desenhados à mão, ao contrário da arte pixelada das obras anteriores do estúdio.

Pertencente ao gênero puzzle, Grindstone possui uma trama bem simples, unicamente para impulsionar o jogador ao contexto de sua jogabilidade. Você controla um guerreiro, meio bárbaro e truculento, que é um pai de família. Seu desejo é levar a família para férias ensolaradas, e para isso precisa de dinheiro. Não lhe resta outra alternativa senão explorar uma grande montanha gelada, repleta de tesouros e joias que poderão garantir um belo plano orçamentário. Isso se o mesmo sobreviver a tal jornada.

Conectando inimigos

Jogadores habituais com puzzles games, como Tetris e Puyo Puyo, irão se sentir em casa ao jogarem Grindstone, entretanto irão encontrar uma proposta totalmente diferente dos exemplos a qual acabei de mencionar. O objetivo aqui não é encaixar peças, e sim criar conexões de ataque do guerreiro, chamado Jorj, entre inimigos da mesma cor, criando ataques devastadores que resultarão no surgimento da pedra que dá nome ao jogo. Quanto maior o combo dos ataques, melhor.

Funciona assim. O tabuleiro se dá em meio a uma tela fixa, a qual será encaixado pequenos inimigos coloridos. Normalmente são três ou quatro cores de inimigos, não mais que isso, porque senão seria muito difícil criar longas cadeias de ataques. O jogador é o grandalhão azul e também se encontra nesse tabuleiro, e o ataque começa de qualquer direção dos espaços ao seu redor. A conexão pode ser baixo ou cima, esquerda ou direita, e também de qualquer diagonal. Mova seu direcional para qualquer direção e uma linha irá surgir, vá conectando monstros de uma mesma cor. Ligou todos? Aperta o botão de ação e o ataque começará.

Jorj irá destroçar tudo que estiver em seu caminho. Realizado esse ataque, o jogador se posicionará na última casa em que eliminou o último inimigo da fila. A partir daí você deve criar uma nova conexão para eliminar uma nova fila. Mas antes de partir novamente para o ataque, o tabuleiro é preenchido com novos monstros. Os que não foram eliminados durante a jogada caem para as casas inferiores, obedecendo a linha vertical, enquanto outros chegam para preencher o restante do tabuleiro. Isso permite ao jogador criar novos movimentos.

Bem, essa é a regra básica de Grindstone. Claro que a partir desse ponto novos elementos serão inseridos. Ao eliminar mais de 10 inimigos em um único movimento de ataque, uma grindstone cai no tabuleiro. E para que essa pedra serve? Ela permite expandir a conexão da fila para uma nova cor ao passar pela joia. Exemplo, você conectou dez monstros amarelos até chegar a joia, e a partir dela, agora você pode seguir conectando com outra linha de monstros de uma outra cor. Isso expande consideravelmente o combo do jogador.

Mas nem tudo é moleza, pois inimigos mais fortes, e sem cores, também irão se opor à Jorj. Inimigos poderosos são indicados por uma numeração ao seu lado. Esse número indica a força do inimigo, tornando impossível derrotá-lo sem acumular força o suficiente para tal. Funciona assim, a cada conexão entre inimigos de cores, o nível de força do jogador vai aumentar e acumular. Esse acumulo é usado para derrotar esses inimigos, assim como para destruir pedras, abrir baús e afins.

Sendo prático: há um inimigo de força 10? Significa para para eliminá-lo, é preciso criar uma fila de ataque maior do que 10 e conseguir linkar essa fila nesse inimigo. Ao fazer isso, o jogo ainda lhe permite seguir conectando outros inimigos, inclusive sendo possível mudar a cor, voltando a acumular a força, para quebrar ou atacar um próximo inimigo, ou apenas pelo prazer de maximizar seu combo, o que lhe dará uma grindstone ainda maior.

Se até aqui você achou fácil, calma que vou complicar. Os monstros não seriam monstros se não oferecessem perigo, não concorda? Estes inimigos poderosos precisam ser eliminados porque eles caçam Jorj pelo tabuleiro, andando uma casa por turno. O raio de alcance de seus ataques tentem a variar, com alguns atacando de perto, enquanto outros podem arremessar lanças em linha reta ou atirar projéteis no tabuleiro, que invalidam temporariamente as casas em que acertar.

Além disso, os monstros coloridos também entram em fúria conforme mais turnos vão se passando. Parar ao lado (no sentido vertical ou horizontal) ao lado destes monstros irá ativar seus ataques. Monstros não atacam na diagonal. E Jorj possui 3 corações, resistindo então a dois ataques, sendo o terceiro sendo fatal para o guerreiro. Por fim, se Jorj for nocauteado, tudo que se conquistou na fase é perdido. E mais a frente explico sobre o loot do jogo.

Suba a montanha

Diferente de jogos como Tetris, em que o jogador deve sobreviver pelo máximo de tempo possível, Grindstone é um jogo baseado em objetivos. Significa que cada estágio tem alguns objetivos, e uma vez cumpridos estas metas é hora de seguir adiante para a próxima fase. Permanecer por tempo demais em fases com metas cumpridas aumenta a dificuldade dela e o risco de ser morto pelos monstros, pois eles ficarão mais e mais em fúria, impedindo que haja uma casa em que o jogador possa se posicionar sem ser atacado. A fórmula do jogo lhe empurra para seguir a próxima fase.

Basicamente há três metas em cada estágio. O primeiro é eliminar um número estipulado de inimigos, simples. Quanto maior a fila de combo, mais rápido se cumpre tal objetivo. O segundo normalmente envolve conseguir abrir um baú dentro do jogo. Em muitos estágios esse baú só aparece uma vez cumprido a meta de eliminação. Quando isso acontecer uma chave cairá em um inimigo, fazendo com que o jogador precise eliminá-lo. Baú também possuem uma numeração de força, como 5 ou 10, indicando a fila de inimigos que precisa se acumular para conseguir força para quebrá-los.

A terceira meta de cada estágio é mais malandra. Ela envolve coletar uma coroa de um monstro que é meio feiticeiro. O problema é que esse monstro segue o padrão de cores dos demais inimigos da fila, assim como possui força nível 5. Ou seja, é preciso criar um fila de 5 monstros, da cor do mago, para conseguir derrotá-lo. Essa parte requer um pouco de estratégia, pois nem sempre os monstros estão alinhados afim de permitir esse ataque. Além disso, estacionar em uma casa perto do mago o fará reagir e atacar Jorj. Esse mago sempre aparece após a meta de eliminação, momento da partida em que já há um número razoável de monstros em fúria, querendo que o jogador saia da fase. O problema é que para progredir pela montanha, um certo número de coroas devem ser coletadas, ou seja, deixar as fases sem derrotar os magos vai lhe trazer problemas mais a frente no progresso da campanha.

Falando em campanha, Grindstone oferece 150 estágios em sua modalidade principal, porém o título já conta com mais de 100 estágios extras, entregues por meio de atualizações gratuitas realizadas desde seu lançamento original, além de um modo diário que oferece três novas fases temporárias a cada ciclo de 24 horas. Se você está se perguntando se essa é uma boa quantidade de fases, posso lhe garantir que sim. Em um final de semana em que fiquei mais de 5 horas jogando o título, cheguei a avançar por certa de 30 fases da campanha principal. Note que é preciso muito mais tempo para virar tudo que o jogo tem a oferecer.

Isso ocorre porque tecnicamente as fases não possuem um tempo. Sim, é verdade que a cada turno mais perigoso vai ficando permanecer na fase, mas o ato de poder pensar livremente a jogada de cada turno é o que torna os estágios mais longos do que rápidas partidas de Tetris, por exemplo. Existe uma grande liberdade para planejar, analisar e pensar antes de sair jogando cada um dos turnos de Grindstone. Há estágios em que se pode levar quase 10 minutos para se finalizar, ainda que no geral as fases durem de 4 a 5 minutos.

A disposição dos estágios é feito por meio de um mapa vertical, que faz uma alusão ao ato do Jorj estar subindo uma imensa montanha. Dentro dessa montanha o jogo a divide em setores, que vão representar os mundos do game. Inicialmente os mundos mundam muito pouco entre si, pois estão mais voltados a adicionar inimigos e elementos em que o jogador deve quebrar no tabuleiro, entretanto nos mais avançados existem alterações no próprio terreno e que devem influenciar as estratégias. De toda forma, a disposição dos elementos em cada estágio tentando a mudar, incluindo aí casas em que o jogador ou inimigos possam interagir, criando assim diferentes tipos de layouts.

Estratégias adicionais

Convém também explicar que ao longo da escalada, Grindstone apresenta certo tipo de progressão que dará ao jogador opções adicionais de estratégia para lidar com diferentes situações quando chegar o momento da ação. Afinal um plano B talvez seja necessário em certos momentos de aberto.

O jogador pode equipar até três equipamentos que adicionam uma camada extra de estratégica dentro da jogabilidade. Existem itens que só podem ser usados uma vez por partida, ficando habilitados novamente no próximo estágio, e itens consumíveis, que após serem utilizados algumas vezes, se fazem necessário recarregá-los manualmente, consumindo alguns recursos encontrados pelas fases.

Então sim, o jogo tem um sistema de construção de itens consumíveis, equipamentos e até mesmo armaduras. Isso é feito em um ambiente do jogo chamado denominado como Pousada. O local, que fica à beira da montanha é a base central do jogador. Lembra quando mencionei há muitos parágrafos acima que o jogador possui três corações e estes não se regeneram ao terminar uma fase? O jogador deve ir até a pousada, e beber uma bebida para restaurar seus corações perdidos. O preço dessa bebida? 5 grinstones para cada coração. E não se preocupe, pois as grindstones são meio que o dinheiro do jogo, e você ganhará muito delas a cada estágio.

Ainda é na pousada que ficam outros dois NPCs que trabalham com armaduras e também equipamentos. Usar diferentes conjuntos de roupa melhoram diferentes atributos do Jorj, ou lhe concedem certos bônus ou vantagens. Por exemplo, a roupa de Papai Noel faz presentes aleatórios, contendo recursos, caírem no tabuleiro vez ou outra entre turnos. Já a roupa de esqueleto faz com que eles não lhe ataquem, pois esqueletos não atacam seus iguais. Bem simples, certo? Para construir novas armaduras é preciso encontrar projetos delas em baús ao progredir pela campanha, e coletar diversos recursos necessários para sua criação por definitivo. Uma vez destravado, você pode usar qualquer armadura, quantas vezes quiser.

Mais útil dos que as armaduras estão os equipamentos. Estes possuem diferentes funções. Um escudo pode lhe proteger de um ataque inimigo, mas só pode ser usado uma vez por partida, e somente contra um ataque. Se dois inimigos lhe atacarem na mesma rodada, um deles lhe causará dano. A flecha é outro equipamento bem útil, pois permite eliminar qualquer monstro colorido, possibilitando encaixar um grupo que possa estar separado por uma única cor diferente, ou simplesmente causar um ponto de dano em inimigos uma numeração indicado sua força. Assim um inimigo de 10, se torna um de 9. Há também diferentes tipos de flechas especiais, que estão na parte de equipamento consumível – usou uma vez, é preciso construir mais.

Golpes especiais com a espada também fazem parte desse arsenal de movimento. Posso contar os dois inimigos do jogo: um em que Jorj faz um ataque giratório ao seu redor, eliminado os inimigos no alcance do ataque, e causando 1 de dano que tiver força maior. Usou uma vez, só na próxima partida. Mas um golpe da espada mais útil, na minha opinião, é aquele em que ela destrói uma linha vertical ou horizontal do tabuleiro, o jogador decide. Mas são espadas diferentes. Cada uma tem apenas um tipo de golpe.

Mencionei os recursos, mas não disse de ontem veem. Pois bem, recursos caem de inimigos poderosos dentro do jogo. Itens como o coração, asas de morcegos, cabeça de crânio, globo espiritual etc. Cada tipo de inimigo tende a soltar um item específico. Por isso é importante destruí-los ao invés de apenas evitá-los. Estes itens também são úteis na hora da ação, pois eles ocupam casas nos tabuleiros e servem como casas neutras, permitindo conectar com os monstros de uma mesma cor, e aumentando o contador de dano da reação em cadeira. Ao sair do estágio, feitos os objetivos, todos os itens no tabuleiro são recolhidos ao jogador, caso ainda não os tenha recolhido.

Tudo isso adiciona boas camadas de profundidade a um game que pode soar simples, mas que acaba sendo bem desafiador em diversos momentos. Por sinal, os estágios foram construidos individualmente, um a um, sem sistema de estágios aleatórios ou procedurais. Nada disso. Cada estágio começa com os monstros em uma mesma disposição de cores e espaço. Porém quando novos vão sendo repostos no tabuleiro, aí sim o título tenta ter um pouco de aleatoriedade, pois aí as variáveis estão sendo mudadas pelo próprio jogador.

Considerações finais

Grindstone é um puzzle game muito impressionante. Superou qualquer expectativas que tinha para com o título. É um destes jogos que facilmente lhe deixam imerso enquanto está jogando, sem que perceba as horas passarem. Foi, de fato, uma surpresa encontrar um título tão bem executado, dentro de um gênero que nem sempre se consegue ser criativo e original. E Grindstone atinge ambas as metas.

Fica até mesmo difícil apontar pontos fracos na obra, pois em tudo a que o jogo se propõe, o faz com grande maestria. Ainda assim posso apontar alguns elementos. Gosto, por exemplo, da ideia de batalhar contra chefes ao final de cada mundo, entretanto não os achei tão marcantes quanto poderiam ser. Cada chefe tem uma mecânica única dentro do jogo, algumas destas que até acharia legal se aparecessem em algumas fases, mas ficam restritas ao seu chefe em específico.

Outro ponto que pode cansar o jogador, que decidir maratonar o jogo, é que após algumas dezenas de fases certos padrões de estatísticas tendem a se tornar óbvias, deixando assim alguns momentos mais fáceis do que normalmente deveriam ser. Mas isso é natural dentro do modelo de muitas fases, a qual não tem o modelo padrão de fazer o jogador ficar dentro das mesmas até o quanto aguentar. Modelo este que acaba invalidando um modo infinito, por exemplo.

Um Endless Mode só funcionária se a fúria dos monstros fosse mais moderada depois de tantos turnos e se novas cores fossem inseridas no tabuleiro, afim de tornar mais difícil criar longas cadeias de ataques. Entretanto, gosto do conceito do Grinding Diário, com três puzzles temporários para se desfrutar dentro desse ciclo de 24 horas. Cada um destes puzzles tem uma pagada distinta, então isso permite jogar um pouquinho todos os dias, sempre oferecendo algo fresco.

No demais elementos, Grindstone faz tudo muito bem. Seu visual desenhado a mão é um charme absoluto. Parece muito um desenho animado, e poderia inclusive ser produzido um, pois o protagonista é encantador a seu jeito truculento, os personagens na pousada são interessantes e até mesmo os monstrinhos tem seu carisma próprio. A animação de Jorj dilacerando os monstros é impagável, quase como se ele estivesse cortando frutas, e a velocidade a qual ele  os eliminam não quebra o ritmo do jogo.

Ritmo e dinâmica são outros dois elementos que casam bem com a jogabilidade de Grindstone. Primeiro porque as fases não duram mais do que deveriam, mesmo nas mais difíceis, pois ou você as vence ou o jogo lhe vence, deixando a decisão do jogador de recomeçar ou ir descansar um pouco. E é dinâmico porque a progressão da campanha está sempre lhe entregando algo novo, sejam novos equipamentos, mais recursos, ou diferentes layouts de fases. É difícil se cansar de jogar Grindstone, mesmo quando você já decorou certos padrões.

É fácil, portanto, chegar a conclusão que Grindstone é um dos melhores jogos desenvolvidos pela Capy. E não é pra menos que sua disponibilização em novas plataformas tem sido feito de forma bem cadenciada. Significa que o título está indo muito bem a cada plataforma em que o mesmo chega, sem a necessidade de acelerá-lo a próxima plataforma. Para aqueles que são fãs de jogos puzzles, que curtem jogar um pouquinho diariamente, para aliviar as tensões e responsabilidades da vida cotidiana, esta é uma excelente indicação.

Galeria

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Dando uma nota

Arte desenhada à mão é fantástica, dá um charme singular a obra - 9.5
Divertido e criativo, puzzle com uma proposta original dentro deste gênero - 9.2
Longa cauda de gameplay, com uma campanha grande e vários estágios extras - 9.2
Ótimos controles, fácil de ser jogado, com recursos visuais inteligentes que auxiliam o jogador - 10
Sistema de armaduras e equipamentos adicionam novas camadas de estratégias - 8.5
Recursos para construir itens está muito bem inserido no gameplay, jogador se sente compelido a coletar tudo - 8.5
Desafio bem balanceado, mas não necessariamente punitivo ou frustrante - 8.5

9.1

Excelente

Grindstone é um fantástico puzzle game, que apresenta uma ideia singular dentro dos padrões do gênero, entregando um gameplay divertido, imersivo e bem acessível a qualquer tipo de jogador. Visualmente é encantador, com gráficos desenhados à mão e personagens que esbanjam carisma. Possui uma longa campanha, repleta de mais de duas centenas de fases. Trata-se de um título imperdível aos fãs do gênero.

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