Crise (4) | 300 reais depois… o mercado de games pode piorar mais?

Olha só, sendo sincero, eu não achei que me veria obrigado a tornar a trilogia da crise, escrito neste final de semana no site, precisaria se tornar uma quadrilogia. Só que aí me vem a Warner Bros Brasil e diz que Star Wars: Battlefront e Need for Speed serão vendidos no Brasil por absurdos 300 reais… CADA! Para a rotação desse planeta que eu quero descer no próximo ponto. A notícia foi dada pela Uol Jogos hoje cedo e depois replicada pela internet brasileira. Fazendo um barulho muito menor do que achei que ainda deveria estar fazendo.

Enfim, antes de começar mais um desabafo (ou choradeira dependendo do ponto de vista de alguns), acho válido relembrar os textos recém publicados aqui no site a respeito do mercado de games e a crise que finalmente chegou de voadora no pescoço dos gamers brasileiro:

Vale mencionar também outros dois momentos que trouxe esse assunto à tona aqui no site. 11 de março de 2014, o momento em que provavelmente as porteiras para o andar para trás que está acontecendo no mercado brasileiro de games. Foi justamente a Warner Brasil que veio com a “brilhante” ideia de vender Titanfall por 250 reais. E eu disse na época: “POSICIONE. Diga não. Reclame. Não compre.” Felizmente parece que não fui o único a me revoltar, pois hoje sabemos que o game caiu de preço meses depois. E hoje você o encontra facilmente na faixa de 99 a 59 reais.

Depois disso, pule para 26 de maio de 2015, em outra matéria aqui no site, digo que já estávamos retrocedendo no mercado nacional, que games a 230 reais era uma palhaçada e que poderia apostar, se os gamers continuarem apoiando esses valores porque querem muito jogar estes games, logo retornaríamos ao pesadelo dos 300 reais em um lançamento. Dito e feito! Não precisou nem de 6 meses depois disso para o horroroso três-zero-zero voltar a nos assombrar.

Aí você diz “Ok, não pode piorar mais do que isso pelo menos”. Será que não, eu lhe digo? Como já disse por aqui, acho que ainda só estamos vendo a pontinha do iceberg da crise do mercado de games no Brasil e é a partir daqui que as coisas vão piorar. E talvez precisem, porque é fato de que as empresas de acomodaram com nosso mercado e seus títulos de 200 reais por lançamento. Nós, jogadores, nos acomodamos com estes valores. A verdade é que paramos de lutar por um melhor mercado, seja porque perdemos as esperanças em iniciativas como o do Jogo Justo e da AciGames, seja por somos culturalmente preguiçosos. Berramos e voltamos a dormir. Não insistimos, não cutucamos, não saímos de nossas zonas de conforto. Essa é a verdade.

Talvez os mais espertos de tudo isso tenham sido os representantes da Nintendo, que caíram fora do país no início de 2015. Fica claro que eles viram algo que a gente ainda não tinha visto, e que talvez só agora estamos prontos para abrir os olhos.

O caso é que estamos revivendo o pesadelo de uma década atrás, quando games originais de PlayStation 2 e Gamecube podiam ser facilmente encontrados entre 200 a 300 reais, dependendo do título. Em um ano, retrocedemos 10 anos. E isso porque agora temos as representantes oficias da Sony e Microsoft no Brasil, temos fabricação e distribuição de games também por aqui, com a localização de diversos títulos ao nosso idioma e mesmo assim… 300 games enviados na sua, na minha, na bunda de todos os gamers brasileiros. E chore à vontade, porque a culpa é do dólar, do Governo, da Dilma, de Deus, de todos! Só não são responsáveis os reais donos dos produtos, dos lucros e do poder que possuem de estipular os preços.

Eu fico perplexo como com tudo que empresas como Microsoft e Sony fizeram aqui no Brasil, o quanto de mercado abriram, e com toda a comoção que existia há alguns anos atrás no auge do Jogo Justo, de varejistas apoiando e fomentando o mercado, como esse grupo não conseguiu mudar em NADA a forma como a legislação brasileira trata os jogos, a forma como a tributação acontece. E é mais ridículo ainda perceber que todo mundo sabe como os games são diferenciados na plataforma do PC, como se ali os games fossem um mero erro burocrático, uma grande lacuna da lei, e por isso os videogames não conseguem se adequar as mesmas regras dessa plataforma. É inacreditável!

Vai piorar?

Se for, pode ter certeza que já podemos imaginar algumas direção. Primeiro é o potencial de retorno da pirataria. Você pode argumentar que os consoles hoje em dia possuem travas, que eles não vão funcionar online etc. Só que eu acho o seguinte. OU você tem um PlayStation 4 sem nenhum game ou com dois ou três games originais e joga online com eles, ou você tem o que quiser no mesmo console, mas com ele sempre offline e rodando seus piratinhas.

E não se esqueça que ainda há muitos jogadores no Brasil que não se importam com as funcionalidade online dos consoles, pelo simples fato de que a distribuição de Banda Larga no Brasil é uma merda. Nossa taxa de upload é ridícula e a internet por Fibra não chega em lugar nenhum, exceto nas grandes capitais, enquanto a expansão anda a passos de tartaruga.

Aí você pergunta: “E a pirataria é ruim?” E eu não acredito que estamos tendo uma conversa tão velha, tão antiga, novamente por causa de um retrocesso do mercado. Sim, a pirataria é ruim no sentido de que se não há mercado original, não há porque as empresas estarem no Brasil.

Volta a ter uma pirataria como nos tempos do PlayStation 2 e pode dar adeus a Sony aqui no Brasil (no setor de videogames). E sabe o que vem a seguir? Diga adeus a localização dos games em Português do Brasil. Que bacana termos um idioma que ninguém mais no mundo inteiro tem, não? Sem mercado formal, porque bancar e pagar localização de games em um mercado que apenas se alimenta de pirataria.

E aí, você que gosta do original. Torça para o dólar não ir a 5 reais (e eu acho que ele chega nisso vai até o final do mandato da Dilma), pois os preços dos importados vão lá nas alturas.

Pode parecer alarmista falar em pirataria. Talvez os consoles de hoje não consigam se destravados. Porém a visão de um mercado em recesso ainda é possível. Você vai ficar pagando por games a 300 reais? Venda menos, encalhe títulos nas prateleiras, deixa o mercado mofar por conta dos altos preços. O que ocorre? A mesma coisa mencionado acima. Empresas vão embora, localização cessa e tudo continua de mal a pior. Quem garante que não foi exatamente esse um dos outros fatores que levaram os representantes da Nintendo a pular fora do país?

Isso significa que nos posicionarmos contra estes preços só irá piorar a situação? Então, aí é que você percebe o grande círculo de merda na qual nos metemos. E porque precisa ser a gente, o consumidor, o gamer, e sempre elo mais fraco a ceder? Não está certo isso. Não somos nós que temos que pagar essa conta no final do dia. Eu não vou pagar.

É aí que entra as alternativas, sendo que uma delas eu disse lá no Crise (3). Eu vou apostar mais nos games gratuitos do meu serviço de assinatura do meu Xbox One. Na próxima semana também estarei assinando a EA Access por um ano (pois do jeito que as coisas estão, eu acho que a mensalidade sobre em breve), estou apenas esperando a fatura do meu cartão de crédito de outubro fechar.

Posso ficar de olho em promoções. Comprar games mais antigos em detrimento dos lançamentos. Até mesmo um usado eventualmente. Só sei que se eu não pagava 230 em um lançamento há alguns meses atrás, com certeza não vou pagar 300 em um lançamento hoje, por mais imperdível e fodástico que ele seja.

Novamente eu digo, se posicione! Diga não! Reclame nos canais oficiais. Não somos nós que temos que pressionar o Governo a mudar as regras. São as grandes empresas, elas precisam agitar, se organizar. Podem até pedir o apoio dos jogadores, mas deve partir deles a responsabilidade. Caso contrário são apenas uns escrotos que acham que podem vender a trezentos, quatrocentos e quinhentos reais que os gamers brasileiros vão continuar comprando assim mesmo. E se continuarmos, somos realmente trouxas, não importa o quanto você esteja cagando dinheiro. Isso é errado e ponto!

Sim, estamos em um mato sem cachorro. Não há para onde ir, para onde correr.  Essa é uma luta que se partir da gente, nunca ganharemos, caso contrário já teríamos ganhado nos tempos do Moacyr e da AciGames.

E você aí está dizendo, “vem jogar no PC, onde a Steam tem preços lindos e maravilhosos”. Sim, a plataforma de PC passa a ser a opção mais lógica e sensata ao gamers brasileiro. Mas também não deixa de ser uma fuga da realidade. Isso porque até quando você acha que o PC vai ter as mamatas que tem hoje em dia? Já se fala em taxar Steam, junto com serviços como Netflix. O dólar também andou influenciando e os games de PC que sempre foram 99 reais, hoje já subiram um pouco esse valor. Ou seja, não está tudo lindo no PC, está melhor. Mas até quando? Se refugiar ali, só porque é mais cômodo é justamente o que torna nossas brigas por melhores mercados preguiçosas.

Enfim, não é um assunto fácil, não existe uma única resposta, uma única visão. Só espero que você realmente não acredite que chegamos ao limite do nosso mercado, porque eu acredito veemente que ainda toda essa situação pode piorar muito mais, principalmente senão tivermos cautela e prudência em saber como lidar com estes novos preços.

Erga a bandeiro do não aos 300 e fique firme nas convicções de que o mercado se readapta novamente quando ele percebe que pediu depois do consumidor. É isso!

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12 Comentários

  1. Mas você sabe por que o PC é barato? Você pode dizer incentivos, porém os incentivos que o PC tem no mercado Online são os mesmos do console, mesmo impostos e tudo mais. A diferença que no PC ou você faz preço ou não vende, as pessoas pirateiam, ou fazem como eu e compram Fallout 4 na Rússia por 100 reias.

    1. Graaaande Gradash! Perdido por aqui também? 😉

      Pois é… mas já estamos vendo um “leve” aumento nos jogos de PC também. Ontem mesmo já vi o novo NFS a 229,00 reais na sua versão Steam. Isso me preocupa, porque como o Thiago citou no texto, os valores dos jogos de PC também tiveram um aumento gradual ao longo de 2 anos. Me lembro que eu pagava 99,00 reais nos lançamentos, e de repente me preocupou ver todo lançamento do Steam a 129,00. Mesmo assim, pagava, dependendo do game, porque em relação aos consoles, eu estava economizando no mínimo 80,00 reais por jogos. Foi então que começaram a pipocar jogos a 149,00. E então, veio a Warner e seu MKX a 200,00. E tudo isso em menos de 2 anos. Crap!

      Ainda acho que o principal fator dos jogos de PC serem mais baratos em relação aos consoles é, principalmente, o fato de que jogo de PC é considerado software e se “encaixam” nessa brecha. Mas quem diz que os caras não podem, de uma hora pra outra, regulamentar isso? O ideal seria que considerassem jogos de console como software também, mas do jeito que andam as coisas, acho mais fácil acontecer o contrário, e considerarem jogos de PC como “não-software”…

      A situação atual me deixa realmente preocupado com nosso futuro comprando joguinhos. As soluções que eu tenho são: A) Há quem defenda que o lance de esperar, não comprar no lançamento, mas na real, não vejo graça ter que jogar todo santo jogo que sai somente após 1 ou 2 anos B) O lance de criar contas em outros países acho impraticável, pois não funciona como nos consoles, que é só escolher outro país e pá. Depois que eu vi a gambiarra que eu teria que fazer pra pagar 80,00 reais no MGS V, e que teria que fazer isso em TODO santo jogo, desisti. Na moral, acho que pouca gente vai fazer. Ou C) Voltar a ser “nostálgico” e apelar pra minha época de PS2: pirataria! É a mais fácil, e ao mesmo tempo mais triste, pois foi o Steam quem me tirou da pirataria há 7 anos atrás. E nem sempre é a melhor solução: até hoje, ainda não existe um crack decente para MGS V ou Mad Max.

      Tá osso!

      1. É exatamente o que o Flaviometal explica acima. Os games de PC estão em uma lacuna da legislação, sendo enquadrados como softwares, recebendo menos tributos, enquanto o mesmo produtos nos videogames recebe uma tarifação diferenciada e mais absurda. E eles são mais baratos apenas por causa desse buraco na lei. Se em um eventual momento alguém resolver tapar esse buraco… adeus preços menores aos games no PC. 🙁

  2. Opa, acho que a parte do Steam foi uma indireta (bem direta) pra mim heim… Mas sim no PC o valor é mais cômodo porque no momento mesmo que com o real 4x o valor do dólar, eles não repassam esse valor.

    Mas isso vai mudar sim com essas taxações, e será escolha da Valve repassar isso diretamente ou aos poucos pro consumidor.

    Para ser sincero nem mesmo tenho comprado jogos pelo steam (mais de 200 titulos na wishlist, mas vão ficar mofando lá até um summer/winter sale bem gratificante), estava começando a “gostar” de ver bundles e sites afins com varios games por um precinho bacana. Mas infelizmente, todos preços a dolar. Ou seja, acabou a farra no Humble Bundle também apenas por causa do dólar =(

    1. Jorge, prometo que a parte do Steam não foi direcionada a ninguém especificamente. :p

      Eu comentei essa parte porque é realmente um assunto em comum do pessoal da plataforma PC e que não curte muito consoles. Mas até eles estão nessa dança do aumento, ainda que em um patamar diferente dos consoles. 🙁

    1. Você só não pode se esquecer que se um game custa 300 reais, um usado dela vai custar quanto? 180? 150? O mercado de usados também inflaciona quando os novos passam a custar valores maiores. É só questão de tempo (isso se já não estiver acontecendo).

      1. Na verdade a maioria dos jogos usados custa bem menos que isso. Mas nem era meu ponto, eu quis dizer que se só tivesse opção de novo a 300 reais eu nem compraria mais jogos.

          1. Acho que a “curva” vai se modificar, mas os preços mais baixos continuarão iguais. Digo isso porque praticamente não tem diferença entre preço de jogo usado de PS3 e PS4, sendo que os de PS3 obviamente são bem mais velhos, inclusive de uma época em que o novo era bem mais barato que R$300. Dá um estudo isso aí.

          2. Aqui na minha cidade é que deve ser caro então, porque os caras vendem jogos usados de PS4 a valores absurdos, Pierre. Dificilmente encontra-se um usado de PS4 a menos de 120,00 reais. A não ser que seja um jogo BEM mais velho, tipo um Black Flag da vida. E também acho que um cara que pagou 300,00 reais num game dificilmente vá vender ele por menos de 180,00…

            Mas é aquela, depende MUITO do jogo e da pessoa, né? Já vi Bloodborne a 100,00 reais. Mesmo preço do Black Flag.

          3. Não sei o que eu fiz, mas consegui apagar o comentário anterior, hehehe…

            Aqui na minha cidade os caras enfiam a faca em games usados. Mas tu tem razão, os preços de jogos usados da gen anterior e da atual estão bem próximos mesmos. Porém, acho que os jogos de PS3/360 também vão custar 300,00, e a médio prazo, acho que os usados também vão subir um pouco, pois acho difícil um cara que pagou 300,00 reais num game vende-lo a menos de 180,00…

            Mas é aquela: isso vai variar de pessoa pra pessoa, né? O lance é procurar. E bem.

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